Published in | Primeiro Relatorio de Avaliacao Nacional, pp. 25-63 |
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Authors | Grimm, A.M. and Sampaio, G. |
Publication year | 2014 |
DOI | http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.1.4263.1281 |
Affiliations | UFPR, INPE |
IAI Program | CRN3 |
IAI Project | CRN3035 |
Keywords | |
Tendo em vista as dimensões continentais do Brasil assim como a diversidade de seus regimes cli-máticos e das influências sobre seu clima, é necessário ressaltar a necessidade de estudos observacionais para bem conhecê-lo, em termos de características, mecanismos e variabilidade. O conhecimento do clima presente é o primeiro passo para se conhecer o clima futuro. Este se aproxima gradualmente a cada ano, de tal forma que a adaptação ao futuro próximo deve ser parte da solução do problema geral de adequação ao futuro distante.Assim, a adaptação ao clima do próximo ano ou da próxima década, haja ou não aquecimento global e outras mudanças antrópicas, deve ser uma das prioridades nacionais, principalmente em países em desenvolvimento. Vários estudos aqui descritos revelam o grande impacto da variabilidade interanual, que pode pro-duzir alterações por um fator maior que 4 nas chuvas sazonais em certas regiões, como a Amazônia, aqui entendida como a bacia hidrográfica do Rio Amazonas e seus tributários. A maior fonte de variabilidade in-teranual são os eventos El Niño e La Niña. As variações decenais/interdecenais apresentam menor diferença entre fases opostas &ndash alterações por até o fator 2 &ndash, mas são relevantes em termos de adaptação, já que, por serem persistentes, podem causar tanto secas prolongadas, como décadas com mais eventos extremos de chuva.Os modos de variabilidade interdecenal produziram forte variação climática na década de 1970, devido à superposição de efeitos da mudança de fase de diferentes modos climáticos. Portanto, análises de tendências em séries relativamente curtas de parâmetros de clima, que compreendem períodos anteriores e posteriores à década mencionada, não são conclusivas.Mesmo análises de séries relativamente longas devem ser encaradas com cautela, tendo em vista que os resultados são extremamente dependentes do período analisado. A grande maioria das tendências detectadas na precipitação do Brasil pode ser explicada por alterações de fase em oscilações interdecenais e são, portanto, impróprias para serem consideradas provas de mudanças climáticas. Por exemplo, as principais tendências detectadas são consistentes com a variação produzida na se-gunda metade do século XX pelo primeiro modo interdecenal de chuvas anuais. Este, por sua vez, está signifi-cativamente correlacionado ao modo de tendência de temperatura da superfície do mar, mas também com a oscilação multidecenal do Oceano Atlântico (OMA) e com a oscilação interdecenal do Oceano Pacífico (OIP ou IPO. em inglês). Estes resultados apontam tendências negativas no norte e oeste da Amazônia e positivas no sul da mesma, positivas no Centro-Oeste e Sul do Brasil, mas ausentes no Nordeste. A tendência de au-mento da precipitação entre 1950 e 2000 no Sul do Brasil e em outras partes da baixa Bacia Hidrográfica dos rios Paraná e da Prata, principalmente entre os períodos anterior e posterior à década de 1970, aparece em outros modos interdecenais. Principalmente, está presente no quarto modo de chuvas anuais. Séries um pouco mais longas respaldam tal propensão, mas, na última década, ela registra inversão.Para verificar se as tendências associadas com o primeiro modo interdecenal de precipitação são devidas apenas à mudança de fase da OMA ou se seriam parte de comportamento consistente de mais longo período, precisariam ser obtidas:i) séries mais longas de precipitação e ii) consistência entre estas tendências e as mudanças de precipitação apontadas nessas regiões pelas proje-ções climáticas feitas por numerosos modelos. enorme escassez de dados de estação sobre vastas áreas tropicais, como a Amazônia, o CentroOeste e o leste do Brasil, limitam o estabelecimento de conclusões acuradas para estas regiões. Estudos recentes mostraram que fatores como a mudança de uso da terra e a queima de biomassa podem influen-ciar a temperatura do ar nestas regiões, especialmente na Amazônia e Cerrado. Porém, não se conhece a magnitude e a extensão espacial do sinal dessas influências no longo prazo sobre a temperatura do ar em superfície. Já o efeito da mudança de uso da terra e da liberação de calor antrópico nos grandes centros urbanos sobre o fenômeno de ilha de calor urbana tem sido bem estudado e documentado.Dados de análises reelaboradas desde 1948 fornecem evidência de que, durante o verão austral, a temperatura nos baixos níveis da atmosfera tem aumentado de forma mais acentuada em direção aos trópicos do que nos subtrópicos da América do Sul. A temperatura média anual junto à superfície tropical apresentou, desde então, tendência positiva, enquanto que, nos subtrópicos, há tendência negativa desde meados da década de 1990.O aumento de temperatura do ar também foi verificado sobre o Atlântico Tropical, sugerindo que possam ter ocorrido mudanças no contraste Oceano-Atmosfera e, portanto, no desenvolvimento do sistema de monções. Tais alterações podem causar modificações no regime de precipitação e nebulosidade e criar feedbacks &ndash ou retroalimantações &ndash ainda desconhecidos da temperatura e do clima locais. Variações nos campos médios globais e na TSM entre antes e após o período conhecido como climate shift, no final dos anos 1970, podem ter exercido importante papel no regime de temperaturas atmosféricas e suas respectivas tendências. Elas precisam ser consideradas para que se possa avaliar corretamente o efeito do aquecimento global sobre a América do Sul.Neste contexto, também é importante avaliar o impacto de oscilações climáticas naturais interdece-nais sobre a temperatura do ar em território sul-americano. www.pbmc.coppe.ufrj.br